História de Rodeio
Os primeiros habitantes
Antes mesmo da chegada dos primeiros imigrantes, as regiões hoje conhecidas como Diamante e Rio Morto foram colonizadas por luso-brasileiros, isto é, descendentes de portugueses, muitas vezes miscigenados com escravos libertos ou indígenas e chamados pejorativamente de “caboclos” (DALMOLIN, 2020). Essas populações se instalaram próximas ao Rio Itajaí-Açu, a partir de 1866, vivendo basicamente da pesca. O objetivo desses sujeitos era escapar do alistamento obrigatório no exército imperial, que na época estava envolvido na Guerra do Paraguai.
A chegada dos primeiros imigrantes tiroleses e italianos
Diferentemente da maioria das cidades vizinhas, Rodeio não foi povoado inicialmente por alemães, embora muitos se instalaram mais tarde em algumas localidades. Os primeiros grupos a colonizarem oficialmente, sob orientação do Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau, diretor da colônia homônima, foram os imigrantes tiroleses e italianos. Cabe destacar que os imigrantes tiroleses eram “súditos austríacos de fala italiana” (DALLABRIDA, 2015), pois pertenciam ao Império Austro-Húngaro e, embora falassem o idioma italiano através do dialeto trentino, possuíam uma grande rivalidade com os imigrantes que de fato vinham da Itália, originários das regiões do Vêneto, Lombardia e, em menor escala, do Piemonte. Os imigrantes propriamente italianos colonizaram principalmente a região de São Pedrinho e Vale Nova.
Inicialmente vieram 114 famílias distribuídas em 3 turmas: a primeira, composta de 20 famílias, partiu em maio de 1875, aportando aqui no dia 15 de agosto-dia da Assunção de Nossa Senhora. A segunda turma, composta de 34 famílias, chegou no dia 15 de setembro-dia da Nossa Senhora das Dores. A terceira, com 60 famílias, partiu em 28 de agosto e chegou em 28 de outubro (CANI, 2011).
Os grupos partiram do Tirol em viagem de trem. Depois seguiam por via marítima, levando cerca de 36 dias de viagem em navios à vapor até aportar no Rio de Janeiro. Partiam, geralmente, dos portos de Gênova (Itália) ou de Havre (França). Em seguida aportavam em Itajaí para serem conduzidos até Blumenau, em carroças. De Blumenau eram conduzidos a pé, até Timbó, a fim de escolherem seus lotes de terra em meio à floresta virgem. O nome da cidade se origina da “Picada Rodeio”, onde os colonizadores abriram estradas precárias a facão, partindo de Indaial e chegando novamente, depois de dias, no mesmo ponto. Por causa dessa volta, resolveram chamar o povoado que ali fundariam de “Rodeio”.
Na esperança de sobreviver, esses imigrantes criaram diversas estratégias de superação. Exemplo disso, eram as cooperativas agrícolas que visavam exportar o tabaco em folha para a Europa, ganhando um lucro extra que conseguia garantir a sobrevivência financeira dos primeiros colonos, que tinham de competir com o comércio dos alemães, este hegemônico, no então município de Blumenau (BERRI, 1993). Desta forma os imigrantes não eram “heróis” ou “coitados”, mas sim, sujeitos ativos e preocupados com o destino de sua própria história (DALMOLIN, 2020).
O clero franciscano
A religiosidade sempre foi um elemento fundamental entre os colonizadores tiroleses e italianos. Inicialmente, as rezas eram puxadas por capelães (equivalente a ministro) que íam nas casas e nas rústicas capelas celebrar os cultos religiosos. Raramente vinha um padre de Blumenau, Gaspar ou Joinville celebrar uma missa formal em Rodeio. Apenas a partir de 1892, com a chegada da Ordem dos Frades Menores (OFM) em Blumenau, é que as famílias de língua italiana de Rodeio, Ascurra e Rio dos Cedros irão ter celebrações mais frequentes. Esses padres franciscanos, de origem alemã, se instalaram em definitivo em Rodeio no ano de 1895.
As colônias italianas dentro do município de Blumenau eram “sociedades da capela” (DALLABRIDA, 1993), no sentido que todos os espaços de sociabilidade como as festas, corais, bandas musicais e escolas, estavam ligadas à religião católica e concentradas próximas das capelas. Nesse sentido, Rodeio se tornou paróquia em 1900, adotando São Francisco de Assis como padroeiro. O primeiro pároco foi o alemão Lucínio Korte, frade franciscano que já atuava em Rodeio desde 1893, devido ao seu conhecimento do idioma italiano. O noviciado foi criado em 1901 e funciona até os dias de hoje, ordenando novos noviços que queiram estudar para ser tornarem padres franciscanos.
Além disso, houve a importante atuação das Irmãs da Divina Providência, que eram responsáveis por um hospital local. Outro grupo religioso feminino fundamental foram as Irmãs Catequistas Franciscanas, congregação originalmente rodeense fundada em 1915 a partir das irmãs: Liduína Venturi, Amabile Avosani e Maria Avosani (BERRI, 1988). Essa congregação que tinha a finalidade do ensino, da catequese e de ajudar os mais necessitados se espalhou “de Rodeio para o mundo”, atuando em oito outros países: Chile, Paraguai, Argentina, Guatemala, Angola, Bolívia, Peru e República Dominicana.
Os imigrantes poloneses e o conflito com os indígenas
Os imigrantes poloneses chegaram em Rodeio em 1890, e devido ao fato da maioria dos lotes já estarem ocupados e, principalmente, destes disporem de situações financeiras menos favoráveis que os imigrantes de fala italiana e alemã, se agruparam na localidade de Ipiranga. Segundo estudo recente, a partir do Livro de Óbitos da Paróquia de Rodeio, entre 1895 e 1904, cerca de 24,5% dos mortos sepultados no cemitério de Rodeio eram de origem polonesa (DALMOLIN, 2020). Outra informação importante é que não existia na época um país chamado Polônia, e sim, um grupo étnico que falava a língua polonesa e que se espalhavam entre o Império Austro Húngaro, a Prússia (atual Alemanha) e o Império Russo. De todo modo, grande parte desses imigrantes se deslocaram para outras localidades, devido ao contato direto com os indígenas Xokleng e Kaingang, resultando em muitas mortes de ambos os lados.
A Emancipação de Rodeio
Rodeio se emancipou definitivamente em 14 de março de 1937, tornando-se um município independente. O movimento fez parte de um processo do governo Vargas, que queria diminuir os conflitos internos regionais nas cidades para se envolverem o quanto antes com o plano nacionalizante do país (FERREIRA; KOEPSEL, 2008). Desta forma, Rodeio que tinha um contingente maior de descendentes de língua italiana, separou-se de Timbó (que havia se tornado munícipio apenas três anos antes), tendo como seu primeiro prefeito o Sr. Sílvio Scoz. Nesta época, pertencia a Rodeio os atuais municípios de Benedito Novo e Doutor Pedrinho, que se emanciparam em 1961 e 1988, respectivamente.
Lista dos pioneiros (1875)
Linha Rodeio
Adami, Casimiro (de Besenello)
Adami, Domenico (de Besenello)
Adami, Neguni (de Besenello)
Agostini, Paolo (de Fornace)
Anderle, Domenico (de Vignola)
Anesi, Giacomo (de Piné)
Baldo, Francesco (de Sacco)
Bartolomè, Araldo
Battisti, Batista (de Besenello)
Beber, Antonio (de Pergine)
Benini, Roberto (de Cavallara – Província de Mantova)
Berlofa, Luigi (de Sardagna)
Berri, Gaspare (de Suardi – Província de Padova)
Bertoldi, Giacomo (de Serso)
Bombasaro, Alessandro (de Castelnuovo)
Bonvecchio, Giuseppe (de Trento)
Bridi, Pietro (de Vigolo Vattaro)
Campregher, Giovanni Battista (de Pergine Valsugana)
Carlini, Giacomo (de Mattarello)
Conzatti, Domenico (de Patone di Isera)
Conzatti, Grazioso (de Patone di Isera)
Corn, Givanni (de Roncegno)
Cristofolini, Celeste (de Fornace)
Cristofolini, Mansueto (de Fornace)
Danna, Giovanni (de Castelnuovo)
Delai, Domenico (de Pergine Valsugana)
Demattè, Giovanni (de Mattarello)
Depinè, Carlo (de Tovena)
Eccel, Leopoldo Domenico (de Roncegno)
Eccel, Paolo Giovanni Battista (de Roncegno)
Fachini, Felice (de Vigolo Vattaro)
Fadanelli, Orsola (de Cadine)
Faes, Giovanni (de Fraveggio)
Feller, Costante (de Besenello)
Fiamoncini, Bernardo (de Mattarello)
Fiamoncini, Giosuè (de Mattarello)
Fiamoncini, Giuseppe (de Mattarello)
Focel, Giovanni (de Viarago)
Fontana, Daniele (de Roncegno)
Frainer, Alessio (de Roncegno)
Frainer, Francesco (de Roncegno)
Frainer,Quirino (de Roncegno)
Franzoi, Bortolo (de Vigolo Vattaro)
Fronza, Antonio (de Civezzano)
Fronza, Francesco (de Civezzano)
Fronza, Giovanni Battista (de Civezzano)
Fruet, Valentino (de Levico Terme)
Furlani, Giacomo (de Vigolo Vattaro)
Ghiotti, Carlo (de Pavarola – Provincia di Torino)
Girardi, Bortolo (de Fornace)
Girardi, Clemente (de Fornace)
Girardi, Domenico (de Fornace)
Girardi, Enrico (de Fornace)
Girardi, Placido (de Fornace)
Golli, Camilo (de Roncegno)
Gonzatti, Grazioso (de Patone)
Gottardi, Domenico (de Roncegno)
Kisner, Cristoforo (de Castelnuovo)
Kisner, Giorgio (de Castelnuovo)
Longo, Francesco (de Castelnuovo)
Longo, Giovanni (de Castelnuovo)
Longo, Giuseppe (de Castelnuovo)
Longoni, Luigi
Lorenzi, Giacomo (de Fornace)
Lunelli, Antonio (de Civezzano)
Lunelli, Giovanni (de Civezzano)
Manfrini, Ermenegildo (de Rovereto)
Meneghelli, Erminio (de Mori)
Moratelli, Giacomo (de Vigolo Vattaro)
Moser, Agostino (de Pinè)
Moser, Antonio (de Pinè)
Moser, Giuseppe (de Pinè)
Moser, Luigi Mário (de Pinè)
Moser, Giacomo (de Serso)
Moser, Pietro (de Serso)
Negherbon, Federico (de Cagnò)
Negherbon, Luiggi (de Cagnò)
Noriller, Luiggi (de Besenello)
Ochner, Domenico (de Civezzano)
Pacher, Basilio (de Roncegno)
Pacher, Domenico (de Roncegno)
Pacher, Giovanni (de Roncegno)
Pacher, Giuseppe (de Roncegno)
Pacher, Paolo (de Roncegno)
Pandini, Francesco (de Rovereto)
Pasquali, Antonio (de Fornace)
Pasqualini, Antonio (de Mattarello)
Pasqualini, Giovanni Battista (de Mattarello)
Pasqualini, Domenico (de Mattarello)
Pegoretti, Antonio (de Mattarello)
Pegoratti, Pietro (de Mattarello)
Pezzi, Antonio (de Serso)
Pezzini, Marcelo (de Nomesino)
Pietro, Isidoro (de Pergine Valsugana)
Pintarelli, Candido (de Castagnè)
Pintarelli, Emanuele (de Serso)
Pisetta, Costante (de Fornace)
Pisetta, Giovanni Battista (de Fornace)
Pisetta, Lorenzo (de Fornace)
Pincigher, Domenico (de Vignola)
Plotegher, Vicenzo (de Besenello)
Pretti, Isidoro (de Cagnò)
Pretti, Tommaso (de Cagnò)
Raiser, Pietro (de Besenello)
Rigo, Antonio (de Torcegno)
Rigoni, Giovanni (de Telve)
Roncador, Giacomo (de Verla)
Rosa, Mansueto (de Trento)
Rozza, Battista (de Roncegno)
Sardagna, Giorgio (de Cognola)
Sardagna, Nicolo (de Civezzano)
Scoz, Domenico (de Cognola)
Scoz, Giovanni Battista (de Cognola)
Scoz, Leonardo (de Cognola)
Spagolla, Francesco (de Roncegno)
Spiess, Hermann (alemão)
Stiss, Giovanni (de Novaledo)
Stolf, Antonio (de Fornace)
Stricher, Luigi (de Roncegno)
Stulzer, Beniamino (de Vignola)
Stulzer, Giorgio (de Vignola)
Stulzer, Giuseppe (de Vignola)
Tamanini, Nicollo (de Vigolo Vattaro)
Tambosi, Antonio (de Serso)
Tambosi, Giuseppe (se Serso)
Tiso, Gabriele (de Castelnuovo)
Tomaselli, Francesco (de Vigalzano)
Tomelin, Alfonso (de Fornace)
Tomelin, Antonio (de Fornace)
Trevisani, Eugenio (de Castelfranco – Provincia di Treviso)
Uller, Antonio (de Roncegno)
Valcanaia, Paolo (de Roncegno)
Valler, Vigilio (de Fornace)
Venturi, Andrea (de Trenzano – Provincia di Brescia)
Vimercate, Innocenzo
Linha Diamantina
Bampi, Giuseppe (de Civezzano)
Beber, Giuseppe (de Civezzano)
Beber, Stefano (de Civezzano)
Fronza, Germano (de Civezzano)
Fronza, Luigi (de Civezzano)
Fronza, Battista (de Civezzano)
Gadotti, Giovanni Battista (de Civezzano)
Gadotti, Leonardo (de Civezzano)
Prada, Ernesto (de Civezzano)
Linha São Pedrinho Velho
Andini, Angelo (de Limana – Provincia di Belluno)
Anselmi, Vittorio (de Cerese – Provincia di Mantova)
Avi, Giacomo (de Lasés)
Avosani, Carlo
Bassani, Felice (de Villa Verla – Provincia di Vicenza)
Bellini, Antonio (de San Pietro in Valle – Provincia di Verona)
Berti, Lorenzo
Cani, Adolfo (de Borgoforte – Provincia di Mantova)
Cani, Giuseppe (de Borgoforte – Provincia di Mantova)
Cani, Giuseppe II (filho de Giuseppe nascido em Trenzano – Provincia di Brescia)
Cani, Luiggi (de Borgoforte – Provincia di Mantova)
Dall’Andrea, Giovanni Battista (de Albiano)
Dall´Andrea, Maddallena (de Albiano)
Demattè, Giacomo (de Mattarello)
Merlini, Giovanni Battista (de Villimpenta – Provincia di Mantova)
Mora, Giuseppe (de Borgoforte – Provincia di Mantova)
Morastonni, Ottorino (de San Castaldo – Provincia di Mantova)
Notari, Giovanni (de Cengo – Provincia di Cremona)
Pertuzzoni, Vicenzo
Raffaelli, Giuseppe (de Volano)
Scottini, Francesco (de Terragnolo)
Scottini, Giacinto (de Terragnolo)
Scottini, Pietro (de Terragnolo)
Sevegnani, Pietro (de Albiano)
Tovazzi, Domenico (de Volano)
Venturi, Agostino (de Trenzano – Provincia di Brescia)
Venturi, Angelo (de Trenzano – Provincia di Brescia)
Venturi, Carlo (de Trenzano – Provincia di Brescia)
Linha São Pedrinho Novo
Beninca, Pasquale (de Rolle – Provincia di Treviso)
Brassiani, Giovanni
Cipriani, Davide (de Fontaniva – Provincia di Padova)
Cipriani, Fortunato (de Fontaniva – Provincia di Padova)
Cipriani, Pietro (de Fontaniva – Provincia di Padova)
Destefani, Dionisio (de Piúbega – Provincia di Mantova)
Faggiani, Giuseppe (de Castelbelforte – Provincia di Mantova)
Luigi, Francesco
Pavanelli, Andrea (de Treviso)
Picetti, Francesco
Rigo, Marco (de Fontaniva – Provincia di Padova)
Scoz, Bartolomeu (de Cognola)
Tonet, Antonio (de Revine – Provincia di Treviso)
Tonet, Francesco (de Revine – Provincia di Treviso)
Tonet, Giovanni (de Revine – Provincia di Treviso)
Tonet, Giuseppe (de Revine – Provincia di Treviso)
Tonet, Pietro (de Revine – Provincia di Treviso)
Valle, Angelo (de Fontaniva – Provincia di Padova)
Valle, Luigi (de Fontaniva – Provincia di Padova)
Venturi, Santo (de Trenzano – Provincia di Brescia)
Vigliotti, Giovanni (de Trento)
Referências Bibliográficas
BERRI, Aléssio. A Igreja na colonização italiana no Médio Vale do Itajaí. Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1988.
BERRI, Aléssio. Imigrantes Italianos, criadores de riquezas. Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1993.
CANI, Iracema Maria Moser. Rodeio: histórias e memórias. Indaial: Uniasselvi, 2011.
DALLABRIDA, Norberto. A sombra do campanário. UFSC; Florianópolis, 1993. (Dissertação de Mestrado).
DALLABRIDA, Norberto. Imigração e Colonização de Trentinos e Italianos na Colônia Blumenau. Blumenau em Cadernos, Blumenau, t. 56, n. 6, p. 7-22, nov./dez. 2015.
DALMOLIN, Gabriel. A sociedade da capela: trabalho, fé e educação no povoado de Rodeio. Blumenau: Edifurb, 2020.
FERREIRA, Cristina e KOEPSEL, Daniel Fabricio. Representações da cidade: discussões sobre a história de Timbó. Blumenau: Edifurb; Timbó: Fundação Cultural, 2008.
FRAGA, Andrey José Taffner. Imigração Trentina na Colônia Blumenau. Disponível em: <http://www.circolotrentino.com.br/site/conteudo/index.php?id=60057>. Acesso em: 26 de março de 2020.